INTRODUÇÃO
Quando comecei a defender a doutrina do dízimo conforme está
revelado nas Escrituras, passei a sofrer retaliação e a rejeição daqueles que
se diziam serem meus irmãos e amigos na fé. A instituição religiosa na qual fui
obreiro por 25 anos não me aceitou mais em seu rol de membros e alguns pastores,
obreiros e irmãos até me bloquearam nas redes sociais. Alguns deles me acusam
de causar dissensão e divisão entre os crentes e até de querer destruir as
igrejas por pregar contra o dizimo. Porém, eu oro a Deus para que eles, igual a
mim, também alcancem a graça e o entendimento dessa doutrina conforme Deus a
estabeleceu em Sua imutável Palavra. Por isso, tenho procurado
diligentemente ensinar o que a bíblia fala sobre o dizimo e não a pregar contra
ele como me acusam.
Qual seria sua reação diante de alguém que se apossou de uma
herança que recebeu, ou de quem lhe privou de algo que lhe foi dado como um
direito? Nesse artigo irei falar do dizimo como a herança dada aos levitas e um
direito dos necessitados.
O DÍZIMO ERA SANTO PARA DEUS E IMUTÁVEL.
Quando Deus orientou o seu povo quanto ao cuidado na observância
de diversas leis, entre elas o dizimo, orientou que nada do que Ele ordenou
pudesse ser aumentado ou diminuído, como diz: “Tudo o que eu te ordeno, observarás para fazer; nada lhe
acrescentarás nem diminuirás” (Deuteronômio 12 : 32 ACF). No cumprimento dessa Lei,
Jesus advertiu: "Qualquer,
pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos
homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e
ensinar será chamado grande no reino dos céus." (Mateus 5 : 19 ACF).
No último capítulo do livro de Levítico, encontramos a primeira
menção de dízimo na Lei. Nele vemos Deus requerer para si os dízimos de tudo o
que a terra de Canaã produzia e dos rebanhos dos animais (Levitico 27 : 30 – 33). De
fato, tudo pertence a Deus como o salmista disse: “Do SENHOR é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele
habitam” (Salmo
24 : 1 ACF). Porém, o dizimo era apenas a décima parte de toda produção
anual da terra, bem como a décima cabeça do gado, quando este passasse debaixo
da vara do pastor, não podendo ser substituído ou resgatado (Levítico 27 : 32). Apenas
o dizimo da produção anual do campo poderia ser resgatado, caso o dizimista
precisasse dele, sendo que ao entrega-lo deveria acrescer a quinta parte sobre
ele (Levítico 27 : 31). E
esse dízimo que era santo (consagrado/separado) para Deus, Ele os deu
primeiramente como herança aos levitas, como veremos a seguir.
O DÍZIMO, HERANÇA DOS LEVITAS.
Os levitas eram assim chamados por serem descendentes de Levi, o
terceiro filho de Jacó com Lia (Gênesis
29 : 34). Levi gerou três filhos, a saber: Gerson, Coate e Merari,
formando assim a tribo de Levi (Gênesis
46 : 11). No deserto, após saírem do Egito e a caminho da terra prometida
Deus escolheu essa tribo para exercer o ofício sacerdotal em Israel. Esta
escolha se deu quando os levitas se puseram ao lado de Moisés para extirpar de
Israel aqueles que adoraram o bezerro de ouro, realizando assim um ato de
expiação e aplacando a ira de Deus sobre Israel (Êxodo 32 : 26 – 28). Doravante, eles exerceriam o
sacerdócio em Israel e dedicar-se-iam exclusivamente aos serviços sagrados no
tabernáculo e mais tarde no templo. Somente eles poderiam armar e desarmar o
tabernáculo e guardá-lo a fim de que ninguém que não fosse da tribo de Levi
pudesse entrar nele e morrer (Números
1 : 53). Eles realizariam o serviço de sacrificar animais em oferta pela
expiação dos pecados, cuidar dos utensílios, carregar a arca do concerto e tudo
o mais que se relacionasse ao santuário (Números 1 : 50 , 51).
Quando Israel tomasse posse da terra de Canaã, os levitas não
receberiam nenhuma herança nela, pois não poderiam sequer se afastar do
santuário para lavrar a terra e assim ter o seu ganho. "Porém, à tribo de Levi, Moisés não deu
herança; o SENHOR Deus de Israel é a sua herança, como já lhe tinha
falado." (Josué
13 : 33 ACF). Então o Senhor que os escolheu os recompensa ordenando que as
demais tribos que receberiam lotes de terra em Israel, levasse à tribo de Levi
a décima parte (dízimo) de toda a produção anual, bem como o gado, conforme
expliquei acima. O capítulo 18 de Números nos mostra com detalhes Deus outorgando
aos levitas como herança todos os dízimos que a Ele era consagrado em Israel.
“E eis que aos filhos de
Levi tenho dado todos os dízimos em Israel por herança, pelo ministério que
executam, o ministério da tenda da congregação” (Números 18 ; 21 ACF).
Observe o leitor que não foi apenas uma parte dos dízimos, mas
TODOS os dízimos em Israel. Deus os deu aos levitas por herança e em recompensa pelo trabalho que exerciam no santuário, o
que convém dizer, era um trabalho muito árduo. Deus sendo o dono de tudo deu os
dízimos como herança aos levitas e ninguém que não fosse da tribo de Levi
poderia usurpar para si essa bênção. Nem mesmo os sacerdotes, que apesar de
serem da tribo de Levi poderiam requerer para si esse direito. É comum ouvirmos
ensinos defendendo que os dízimos eram dos sacerdotes, como maneira de
justificar os atuais pastores cobrarem dízimos dos crentes. Mas isso é mais uma
mentira condenável, pois os mentirosos não herdarão o reino dos céus, sendo que
a bíblia diz que a parte dos mentirosos será no lago que arde com fogo e
enxofre; o que é a segunda morte. (Apocalipse 21 : 8).
O QUE DEUS DEU AOS
SACERDOTES.
Arão foi escolhido para ser o sumo sacerdote e seus filhos
sacerdotes com ele (Êxodo
28 : 1). Todos eram da tibo de Levi, mas não tinham o direito de receber
dízimos do povo. Na tribo de Levi somente os descendentes diretos de Arão
poderia exercer o sacerdócio e eles seriam auxiliados no seu oficio sacerdotal
pelos demais levitas como está escrito: “E eu, eis que tenho tomado vossos irmãos, os levitas, do meio dos
filhos de Israel; são dados a vós em dádiva pelo SENHOR, para que sirvam ao
ministério da tenda da congregação. Mas tu e teus filhos contigo cumprireis o
vosso sacerdócio no tocante a tudo o que é do altar, e a tudo o que está dentro
do véu, nisso servireis; eu vos tenho dado o vosso sacerdócio em dádiva
ministerial e o estranho que se chegar morrerá.” (Números 18 : 6 , 7 ACF).
USURPAR A HERANÇA DOS LEVITAS ERA ROUBAR A DEUS.
Quando entendemos que os dízimos sendo de Deus, mas que Ele os deu aos levitas como herança, então, passamos a compreender o primeiro motivo pelo qual Deus se sentiu roubado no tempo de Malaquias (o segundo motivo explicarei mais a frente).
"Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas." (Malaquias 3 : 8 ACF).
Pode Deus, um ser sublime, santo, onipotente, onipresente, onisciente, conhecedor do passado, presente e futuro e que habita na luz inacessível ser roubado por um simples mortal? Sim, e com a seguinte condição: Deus é roubado quando seus filhos são roubados e privados de seus direitos. Em relação a esse roubo encontramos a resposta no livro de Neemias que foi contemporâneo de Malaquias. Neemias cita o sumo sacerdote Eliasibe que presidia a câmara da casa de Deus que era a casa do tesouro. Ele como sumo sacerdote e líder espiritual deveria ensinar a Lei ao povo, mas foi o primeiro a violá-la quando se aparentou com Tobias, o amonita. (Neemias 13 : 5). Seu péssimo exemplo de liderança foi seguido pelo filho, também sacerdote. Este, igual ao pai foi infiel aos votos matrimoniais e trocou sua esposa pela filha de Sambalate o horonita e companheiro de Tobias (Neemias 13 : 28). Assim, o povo veio a imitar os passos de seus líderes. Veja que Malaquias denuncia essa infidelidade em seu livro, dizendo: “Judá tem sido desleal, e abominação se cometeu em Israel e em Jerusalém; porque Judá profanou o santuário do SENHOR, o qual ele ama, e se casou com a filha de deus estranho”. (Malaquias 2 : 11 ACF). Esse foi apenas um dos males que fez Judá mergulhar na apostasia.
E, como um abismo chama outro abismo (Salmo 42 : 7), o sumo sacerdote Eliasibe foi mais além pondo Tobias para morar dentro da casa do tesouro (Neemias 13 : 7). Assim, os dízimos e as ofertas que eram mantimentos na casa de Deus e destinado aos levitas e aos que faziam a obra tiveram um destino diferente. Por não receberem a herança que Deus os havia dado que eram os dízimos, os levitas foram forçados a abandonar o templo e os serviços dos cultos a fim de procurarem sustentos em outros lugares (Neemias 13 : 10).
Tal ação irresponsável por parte de um sumo sacerdote fez com que o povo deixasse de levar à casa do tesouro suas bênçãos como a Lei ordenava. Por intermédio de Malaquias o Senhor censura os sacerdotes com está escrito: “Mas vós vos desviastes do caminho; a muitos fizestes tropeçar na lei; corrompestes a aliança de Levi, diz o SENHOR dos Exércitos” (Malaquias 2 : 8 ACF). Porém, Neemias restaurou a ordem em Judá trazendo de volta os levitas e ordenando o povo a voltar a trazer seus dízimos (Neemias 13 : 11). Neemias destituiu Eliasibe do sacerdócio e pôs a Selemias em seu lugar e com ele três levitas auxiliando-o porquê foram achados fiéis, a fim de distribuírem os dízimos entre os irmãos (Neemias 13 : 13). Esse foi o primeiro motivo de Deus se sentir roubado nos dízimos.
DÍZIMO, UM DIREITO DOS NECESSITADOS.
Vimos que a principio Deus destinou todos os dízimos aos levitas como herança por causa do serviço que executavam no santuário (Números 18 : 21 – 26). Mas, quando os hebreus tomaram posse da terra prometida, Deus estendeu o benefício do dizimo aos necessitados como órfãos, viúvas e até estrangeiros. Em Deuteronômio 14 : 28 , 29 se diz:
“28 Ao fim de três anos tirarás todos os
dízimos da tua colheita no mesmo ano, e os recolherás dentro das tuas portas;
29
Então virá o levita (pois nem parte nem herança tem contigo), e o
estrangeiro, e o órfão, e a viúva, que estão dentro das tuas portas, e comerão,
e fartar-se-ão; para que o SENHOR teu Deus te abençoe em toda a obra que as
tuas mãos fizerem”.
Os dízimos em
Israel eram entregues uma vez ao ano aos levitas. E essa entrega não era em
qualquer lugar, mas no lugar que Deus escolheu para esse fim que foi Jerusalém
(Deuteronômio
12 : 5 – 14). Porém, na sua justiça e no cuidado que tem para com os
necessitados, o Senhor ordenou em Sua Palavra que de três em três anos os
dízimos deveriam ser recolhidos na própria casa do dizimista. No tempo da
entrega, o dizimista deveria levar à sua própria casa o levita, o órfão, a
viúva e o estrangeiro que habitavam em sua cidade. Apesar de Deus estender essa
bênção aos necessitados, contudo o levita não deveria ficar de fora, pois, como
vimos, os dízimos eram sua herança, e Deus havia ordenado a Israel o seguinte: "Guarda-te,
que não desampares ao levita todos os teus dias na terra." (Deuteronômio 12
: 19 ACF). Ali na casa e na mesa do dizimista eram postos os dízimos
e todos deveriam comer até fartarem-se. Em Deuteronômio 26, o Senhor ordena o
dizimista fazer uma oração confessando que fez tudo conforme o Senhor ordenou
fazer em relação ao levita e ao necessitado, pois somente assim a bênção de
Deus viria sobre seus negócios (Deuteronômio 26 : 12 – 19).
No cuidado para com
os necessitados o Senhor estabeleceu em Lei o direito inerente a eles: "E, quando
fizerdes a colheita da vossa terra, não acabarás de segar os cantos do teu
campo, nem colherás as espigas caídas da tua sega; para o pobre e para o
estrangeiro as deixarás. Eu sou o SENHOR vosso Deus." (Levítico 23 :
22 ACF). Pela Lei, Deus fez o povo jurar compromisso com os
necessitados, dizendo: "Maldito aquele que perverter o direito do estrangeiro,
do órfão e da viúva. E todo o povo dirá: Amém." (Deuteronômio 27
: 19 ACF). Aqui vemos o segundo motivo pelo qual Deus se sentiu
roubado em relação aos dízimos. No capítulo 3 de Malaquias e verso 5, Deus
declara aos sacerdotes que o roubavam dizendo: “E chegar-me-ei a vós para juízo; e serei uma
testemunha veloz contra os feiticeiros, contra os adúlteros, contra os que
juram falsamente, contra os que defraudam o diarista em seu salário, e a viúva,
e o órfão, e que pervertem o direito do estrangeiro, e não me temem, diz o
SENHOR dos Exércitos”.
Sendo os dízimos um
direito dos necessitados estabelecidos em Lei, privá-los desse direito era
roubar a Deus e isso ocasionaria em atrair maldição contra si, pois Deus fez o
povo jurar dizendo o amém, isto é, os hebreus estavam conscientes que se
pervertessem o direito dos necessitados a maldição cairia sobre eles, como Deus
determinou na Lei (Deuteronômio 27 : 19). E como de fato os
necessitados também foram privados desse direito, Deus falou por Malaquias aos
que o roubavam dizendo: "Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me
roubais, sim, toda esta nação." (Malaquias 3 : 9). E qual foi a
maldição senão a retenção das chuvas nos céus e a praga dos gafanhotos nas
lavouras dos hebreus? Gafanhotos esses que a teologia da prosperidade
transformou em demônios com o fim de extorquir o incauto e sendo mais uma
diabólica mentira ensinada em muitas igrejas e que levará a quem ensina à
perdição.
CONCLUSÃO
Como vimos, o
dízimo era uma herança dos levitas e um direito dos necessitados. A princípio,
os dízimos foram dados como herança aos levitas e fora deles, ninguém tinha o
direito de receber ou cobrar os dízimos do povo. Mas os levitas encerraram o
seu ministério com a queda do templo judeu no ano 70 dC. Somente nele os
dízimos deveriam ser levados, pois Deus não os recebia em outro lugar. Se
alguém cobra e recebe dízimos do povo não sendo levita (da tribo de Levi) está roubando
a Deus, pois Ele não delegou esta herança a terceiros, muito menos aos gentios.
Principalmente se cobram em dinheiro, uma vez que dizimo na bíblia era
MANTIMENTO e Deus não mudou isso.
Quanto aos pobres,
Jesus disse que eles estarão sempre conosco (João 12 : 8). A igreja primitiva
não cobrava dízimos, sabendo que Jesus na cruz cumpriu toda a Lei e pagou toda
a nossa dívida (Mateus
5 : 17 ; Colossenses 2 ; 14). Mas usava as contribuições dos que
tinham para abençoar os que nada tinham (Atos 4 : 34). E muito embora esse princípio de
ajuda aos necessitados tenha sido largamente difundido no novo testamento por
Jesus e pelos apóstolos, sabemos que na atualidade estes não vislumbram desse
direito. E pior, eles ainda são coagidos por ameaça de maldição e exclusão das
instituições se não entregarem 10% de suas rendas aos líderes dessas
instituições como se fossem dízimos a Deus.
Oro a Deus para que
Ele abra o entendimento de muitos de seus filhos quanto a Sua verdade sobre o
que era o dizimo revelado em Sua santa Palavra, antes que seja tarde demais.
"Fiz-me acaso vosso inimigo, dizendo a
verdade?" (Gálatas 4 : 16).
Em Cristo,
Reginaldo Barbosa
Santa Bárbara do Pará
Fonte: Bíblia Sagrada Almeida Corrigida Fiel ao texto original (ACF)